terça-feira, 27 de agosto de 2013

Inseminação Artificial em Tempo Fixo (IATF) em gado leiteiro





Introdução

As vacas leiteiras, durante a lactação, apresentam características fisiológicas particulares que diferenciam o comportamento reprodutivo desses animais, quando comparadas a fêmeas bovinas de outra aptidão. A fertilidade das vacas leiteiras, principalmente as altamente produtivas, é mais baixa, devido a algumas particularidades metabólicas que tornam a concepção mais problemática, exigindo maior número de inseminações por prenhes.

Particularidades reprodutivas de vacas leiteiras:

Podemos citar como diferenças conhecidas até o momento, as seguintes particularidades:

Maior incidência de retenção de placenta pós-parto.

A explicação para isso é multifatorial, pois envolvem todos os fatores causadores de estresse, tais como: nutrição deficiente, baixa adaptação ao ambiente, baixa resistência a parasitas, incidência de doenças infecciosas, entre outras.
A conseqüência da retenção de placenta é a incidência representativa de endometrites no período pós-parto de vacas leiteiras. Essas infecções geram prejuízos ao ambiente uterino e, em casos extremos, poderá ocorrer a infertilidade permanente de algumas fêmeas. Mesmo as endometrites com menor gravidade, costumam aumentar o período entre o parto e o primeiro cio, com cios de baixa fertilidade, liberação de muco sujo e interferindo na eficiência reprodutiva do animal.

Maior incidência de cistos foliculares.

As vacas em lactação possuem metabolismo muito acelerado e uma taxa de degradação hepática de hormônios esteróide muito rápida (estrógeno e progesterona). Esse fator pode interferir no mecanismo da ovulação. Conforme mostra o esquema abaixo, a metabolização excessiva do estrógeno produzida pelo folículo pré-ovulatório, pode provocar falha na sensibilização dos receptores de estrógeno localizados no hipotálamo. Conseqüentemente, pode haver falha na liberação, ou liberação insuficiente de GnRH e posteriormente de LH, resultando em falha na ovulação ou a formação de um cisto folicular.

Diminuição do período de estro e estros silenciosos

O cio é um comportamento induzido pela ação de alto nível de estrógenos sobre receptores cerebrais específicos. Quando temos rápida metabolização hepática do estrógeno (observado nas vacas em lactação), esse hormônio acaba sendo retirado rapidamente da circulação sanguínea. Conseqüentemente, o comportamento estral se apresenta diminuído ou até ausente.

Maior incidência de dupla ovulação e de partos gemelares.

A dominância folicular, onde o folículo mais representativo da onda de crescimento induz a atresia dos folículos subordinados, se dá pela secreção de estrógeno e inibina. A liberação do estrógeno e inibina promovem o bloqueio da secreção de FSH pela hipófise.
Devido à rápida metabolização hepática (nas vacas leiteiras), o estrógeno secretado pelo folículo dominante, é retirado da circulação, possibilitando uma falha no bloqueio do FSH. Assim, uma freqüência maior de ondas foliculares com a presença de mais de um folículo dominante ocorrem, possibilitando a ovulação dupla.

Alta sensibilidade ao estresse térmico.

As vacas leiteiras possuem metabolismo acelerado, como já foi anteriormente abordado, produzindo muito calor metabólico. Além disso, os animais taurinos são menos adaptados ao clima quente. Portanto, durante o verão, nota-se uma queda significativa nos índices reprodutivos. O estresse térmico provoca uma queda na qualidade dos óvulos produzidos, diminuindo a fertilidade dessas estruturas. Também os embriões são muito sensíveis ao estresse térmico, particularmente nos 7 primeiros dias pós-fertilização.

Menor taxa de concepção à Inseminação artificial.

Todos os fatores acima citados contribuem para uma menor eficiência reprodutiva em vacas leiteiras. Um fator que não deve ser esquecido é a maior metabolização da progesterona produzida pelo corpo lúteo ovariano.
O embrião se desenvolve com menores níveis sanguíneos desse hormônio e sabe-se que esse fato reduz a taxa de crescimento embrionário. Isso aumenta a incidência de falhas no mecanismo de reconhecimento materno da gestação por parte da fêmea, com conseqüente luteólise e perda embrionária precoce.

Por que usar IATF em rebanhos leiteiros?

A necessidade de alta produção de leite e bezerros é fundamental para que a granja leiteira sobreviva e seja capaz de gerar lucros no mercado competitivo atual. Isso somente é possível se a eficiência reprodutiva do rebanho for otimizada pela IATF. Desta forma, busca-se diminuir o intervalo entre partos (IEP) e aumentar a proporção de animais em lactação, além do número de bezerros produzidos por ano.

PRINCIPAIS VANTAGENS DA IATF:

DISPENSA A OBSERVAÇÃO DE CIO

Muitas das vacas em cio não são inseminadas por falhas de detecção. Isto gera aumento da média de intervalo entre partos, aumento do intervalo entre lactações e diminuição do número de bezerros produzidos por ano. Além disso, existem outras falhas como a inseminação de vacas que não estão em cio, ou que já estão em momento desfavorável, o que provoca desperdício de sêmen.

DIMINUIÇÃO DO INTERVALO ENTRE PARTOS.

As vacas leiteiras têm um período de recuperação pós-parto difícil, pois além da recuperação natural do aparelho genital e corporal, ainda têm a alta produção de leite como agente complicador (balanço energético negativo), o que pode gerar períodos bastante longos entre o parto e a nova concepção. Desta forma, com a possibilidade de inseminar as fêmeas mesmo em anestro, há diminuição de custos de manutenção, pela redução do período ocioso das vacas do rebanho.

AUMENTO DA PRODUÇÃO DE LEITE.

É um efeito reflexo da diminuição do intervalo entre partos, conseqüentemente o período seco do animal será menor. Numa propriedade onde o IEP é de 18 meses e, hipoteticamente, consegue-se reduzir para 12 meses, temos uma lactação a mais a cada período de 3 anos, ou seja, 50% de aumento de produção leiteira por ano, só devido ao ganho reprodutivo obtido.

AUMENTO DA PRODUÇÃO DE BEZERROS.

Outro efeito reflexo da diminuição do IEP, teremos uma maior tendência de todas as vacas produzirem um bezerro ao ano, ao invés de 1 bezerro a cada ano e meio como é a média nacional. Com isso obtem-se um maior número de animais para venda ou para reposição no rebanho, levando a um progresso genético mais rápido e gerando receita a propriedade.

POSSIBILIDADE DE CONCENTRAÇÃO DE PARTOS NAS ÉPOCAS
DE ENTRE-SAFRA
LEITEIRA.

É possível sincronizar lotes de animais para parirem e fornecerem mais leite na época quando este produto tem melhor preço de mercado.

Pré-requisitos para utilizar IATF em rebanhos leiteiros:

·         As vacas a serem sincronizadas devem ter, no mínimo, 45 dias de intervalo pós-parto.

·         As vacas devem estar em média/ boa condição corporal (2,5 ou acima, numa escala de 1
a 5).
·         As vacas não devem estar em balanço energético negativo intenso(perda de peso grave).

·         O controle sanitário deve ser rigoroso, evitando que doenças como Brucelose, Leptospirose e outras, interfiram na reprodução.

·         Antes de iniciar um protocolo de IATF, é necessário que um veterinário examine o sistema reprodutor das vacas para eliminar animais com problemas clínicos (infecções uterinas, cistos ovarianos, etc.).

·         Evita-se desperdício de hormônios e sêmen em vacas não aptas.

·         As endometrites resultantes de retenções de placentas devem ser tratadas com aplicações de prostaglandina e antibioticoterapia (se necessário)até a resolução.

·         Vacas com cistos ovarianos podem ser tratadas com GnRH (Gestran Plus®) e 7 dias depois com PGF2α(Prolise®) observando a manifestação de cios subseqüentes. Outra possibilidade de tratamento do cisto ovariano é a realização de um programa de IATF com progesterona.

·         Sempre ao utilizar programas de IATF, dar preferência a sêmen de touros com histórico de fertilidade e oriundo de empresas idôneas, isso evita variação de resultados e queda dos índices de prenhez.



Fonte: Tecnopec
Adaptação: Agropecuavet

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